
Mulher estuprada que realizar aborto pode ter pena maior que estuprador, prevê projeto
Um projeto de lei controverso está sendo debatido na Câmara dos Deputados, gerando ampla discussão e indignação. A proposta, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e apoiada pela bancada evangélica, sugere que o aborto realizado após a 22ª semana de gestação seja equiparado ao crime de homicídio simples, modificando assim o tratamento legal dado ao aborto no Código Penal Brasileiro.
O impacto dessa mudança seria significativo, principalmente para mulheres que foram vítimas de estupro. Segundo o projeto, uma mulher que aborte após esse período pode ser condenada a uma pena de 6 a 20 anos de prisão, potencialmente maior do que a pena aplicada ao seu agressor, cuja condenação por estupro varia entre 6 e 10 anos. Especialistas alertam que essa medida aumenta ainda mais o trauma vivido pelas vítimas, colocando-as em uma situação de maior vulnerabilidade e injustiça.
A advogada e especialista em gênero, Maíra Recchia, comentou sobre o projeto: “É um retrocesso e uma afronta aos direitos das mulheres. Atualmente, o aborto em casos de estupro não é punido e não há restrição de tempo para realizar o procedimento.” A advogada Gabriela Sousa, especialista em advocacia feminista, também criticou a proposta, descrevendo-a como uma violação dos direitos humanos e da constitucionalidade brasileira.
O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, expressou sua preocupação, classificando a proposta como “imoralidade e uma inversão dos valores civilizatórios mais básicos”. Ele enfatizou que o projeto submete mulheres violentadas a um tratamento discriminatório e indigno.
A proposta legal prevê mudanças dramáticas nos casos permitidos de aborto, incluindo a restrição de abortos legais resultantes de estupro a apenas até a 22ª semana de gestação. Passado esse período, mesmo em casos de estupro, o procedimento seria criminalizado.
O projeto, que é visto como um “teste” para o presidente Lula pela bancada evangélica, poderá passar por votação em plenário, onde Sóstenes Cavalcante espera obter “mais de 300 votos”. Este movimento é parte de uma estratégia maior para reafirmar posturas conservadoras em ano eleitoral.
Enquanto o debate avança, grupos de defesa dos direitos das mulheres e organizações sociais continuam mobilizando a sociedade civil para resistir a esta proposta, que consideram um grave ataque aos direitos reprodutivos e à dignidade das mulheres no Brasil. A situação requer a atenção e ação de todos os setores comprometidos com a justiça social e a igualdade de gênero.
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