
“Mário rebaixou a política ao nível mais raso possível”: Opositores criticam uso de leitos de UTI para campanha política
O perfil do prefeito Mário Alexandre no Instagram publicou imagem com o número 55 nas cores azul e laranja, as mesmas do Partido Social Democrático (PSD), legenda do mandatário. O objetivo da publicação era divulgar as unidades de terapia intensiva abertas pelo Governo do Estado para o combate à Covid-19.
O presidente do DEM em Ilhéus, Valderico Junior, repudiou a atitude do gestor. “Neste feriado de Corpus Christi, dia sagrado para muitos ilheenses, fomos surpreendidos por uma propaganda feita pela equipe do prefeito, que associa uma suposta quantidade de leitos de UTI ao número do PSD, partido de Mário Alexandre”.
Valderico Junior lembrou que a terapia intensiva é uma experiência penosa. “Como médico, o prefeito sabe que a pessoa contaminada pelo novo coronavírus, quando necessita de um leito de UTI, normalmente fica 21 dias internada, em intenso sofrimento. Alguns não resistem e morrem. Outros, quando sobrevivem, podem carregar sequelas para o resto da vida”.
Segundo o presidente do DEM-Ilhéus, fazer propaganda eleitoral associada a leitos de UTI é rebaixar a política ao nível mais raso possível. “Deixo aqui o meu repúdio. A discussão dos interesses públicos, principalmente neste difícil momento, deve ser tratada com absoluta seriedade”.
“Tenho evitado críticas ao governo atual, porque o momento é de luto pelas vidas que o país perde a cada dia nessa crise, mas, pelo mesmo motivo, uma atitude desrespeitosa como essa não pode ser ignorada”, concluiu.
Nota da Redação: A condenável postura do prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre, foi alertada pelo Jornal Bahia Online. O veículo publicou um editorial intitulado “Coitada de Ilhéus, Sucupira perde”, criticando a publicação feita.
Leia:
Uma postagem nas redes sociais feita pelo prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre, causou indignação e rebuliço a quem teve a oportunidade de visualizá-la até hoje pela manhã. A repercussão negativa foi tão grande que, muito provavelmente, a autoridade decidiu removê-la, horas depois. O prefeito só se esqueceu de um pequeno detalhe: sim, você pode apagar posts. Mas os rastros ficam, porque os prints são eternos.
E eles foram feitos.
A gente explica, para quem a manobra passou despercebida:
Vamos lá!
Para informar o aumento do número de leitos na cidade, o prefeito publicou uma “arte” destacando que, a partir de agora, Ilhéus passa a contar com 55 vagas de UTI para socorrer as vítimas da Covid-19.
De forma subliminar, a peça destaca o “inocente” novo número (em tamanho grande, com destaque) total de vagas, nas cores laranja e azul.
Se por você passou batido, para os mais atenciosos, jamais passará.
Em ano eleitoral, vale lembrar que 55 é o número que você terá que digitar, na urna, para reeleger Mário Alexandre. As cores usadas são as oficiais do seu partido, o PSD.
A postagem, portanto, parece fazer uma conexão sutil, através de sugestão, que pode relacionar num plano inconsciente, a cura da Covid-19 com a atuação do prefeito, já que as cores e o número representam a identidade política dele, neste momento.
A peça, para além de anunciar a chance de permitir ao ilheense mais oportunidade de socorro – e de vida, representa, em sua faceta subliminar, um caso de abuso eleitoral, por que parece trazer a conta a ser paga na próxima eleição.
Mário liga o trabalho que realiza para salvar vidas neste momento – uma obrigação sua – ao apoio que poderá vir a receber dos sobreviventes na urna, um desejo dele.
Em tempos tão difíceis como este em que a sociedade vivencia insegurança e até desespero, o prefeito de Ilhéus utiliza-se de caminhos que apontam para ilegalidade (e indiferença) para convencer o eleitor que consegue vencer a luta sobre a doença.
Iniciativas como esta, lembram Sucupira, a cidade fictícia e folclórica de O Bem Amado, sucesso na televisão brasileira nos anos 80, tendo a memorável interpretação do ator Paulo Gracindo, um político personalista.
Em Ilhéus, arriscamos dizer que, se não toda, há um pouco de Sucupira na sua essência. Observe: todo gestor quando eleito não abre mão de pintar os prédios públicos municipais nas cores da sua campanha eleitoral.
Muitas vezes, os prédios nem precisam de reforma. Mas para que a população consiga “esquecer” a existência do antecessor, o atual dá o tradicional banho de tinta apenas para mostrar o seu poder e sua presença midiática.
Vejam, observem como o azul de ontem já se tornou o amarelo de hoje!
Um advogado ouvido pelo Jornal Bahia Online disse há pouco que é possível discutir a ilicitude da postagem, dada a tentativa clara de promover o número do partido, que será precisamente o número com o qual o prefeito concorrerá.
“Em tese, a prática pode ensejar a aplicação de multa, por propaganda extemporânea, mas o que vejo de mais relevante, do ponto de vista da crítica política que se pode veicular, é exatamente a preocupação, oportunista, de busca pela promoção político-eleitoral a partir de um tema tão sensível e grave como é a pandemia em curso, cujo combate, no âmbito local, não tem sido satisfatório”, escreveu.
A mensagem do prefeito de Ilhéus é, sem medo de errar, personalista. Pior: os seus adversários (se é que são mesmo) deixam atitudes como esta passarem sem registros, sem uma opinião crítica. O silêncio é ensurdecedor não se sabe se por conveniência (o que é triste) ou falta de competência (o que é lamentável).
Coitada de Ilhéus. Sucupira perde.