
Artigo: A mídia e o racismo. Qual nosso papel?
Nós da mídia, somos um dos principais culpados pela cultura do racismo no Brasil.
O papel da mídia, como o próprio nome diz, é servir de meio, de mediador entre os sujeitos que estão envolvidos em um determinado processo, no caso aqui restringido à comunicação e os indivíduos relacionados sendo os integrantes da sociedade brasileira.
Ao serem os portadores das notícias e demais mensagens produzidas e emitidas pelos integrantes de uma sociedade, os chamados veículos de comunicação gozam de credibilidade e angariam uma atenção que os privilegia em detrimento de outros emissores da própria sociedade, e por vezes autores ou personagens dos temas retratados por tais meios.
Entretanto, nem sempre este poder, conhecido como o “Quarto Poder”, em uma alusão à composição que a mídia faria perante às nossas reconhecidas instituições empoderadas pelo sistema democrático: Executivo, Legislativo e Judiciário, é utilizado de maneira ética, coerente e educativa.
Diversas estratégias foram utilizadas para a manutenção dos privilégios sociais herdados do período escravista. A principal delas são as nossas relações raciais. O entendimento de que as vivemos harmonicamente por sermos um país miscigenado é a máxima operante, e este fato é utilizado para minimizar possíveis enfrentamentos sociais diretos. A orientação moral do brasileiro foi historicamente de tolerar [utilizo o verbo tolerar no sentido de suportar com indulgência, ou seja, sempre com um mal estar aparente] a diversidade, desde que esta não interfira ou transgrida o seu padrão de normalidade. Talvez, essa pode ser esta uma das causas da nossa dificuldade de enxergarmos o abismo que separa brancos e negros em nosso país.
Qual o lugar dos veículos de comunicação na manutenção deste padrão?
A mídia é o intelectual coletivo deste poderio. Os discursos midiáticos tecem uma rede de produção e reprodução do preconceito e do racismo. Funcionam também como uma espécie de ‘grupo técnico de imaginação’, responsável pela absorção, reelaboração e retransmissão de um imaginário coletivo atuante nas representações sociais.
Apontamos quatro fatores operantes do racismo midiáticos: 1) a negação, ou seja, “a mídia tende a negar a existência do racismo, a não ser quando este aparece como objeto noticioso”; 2) o recalcamento, a repressão de aspectos positivos das manifestações simbólicas de origem negra; 3) a estigmatização, que é a marca de desqualificação da diferença que sucinta juízo de inferioridade sobre o outro. Ou seja, num país de dominação branca, a pele escura tende a tornar-se um estigma; 4) a indiferença profissional, por se organizar empresarialmente, quando a obtenção do lucro é o objetivo principal, os profissionais da mídia pouco se interessam por questões referentes a discriminação do negro e das minorias.
Para combater o nosso imaginário preconceituoso é fundamental que sejam pensadas políticas públicas que promovam a diversidade étnica e racial dos agentes dos veículos de comunicação. Se quisermos ter um país realmente igualitário é preciso que ações práticas sejam feitas.
Chegamos ao tempo em que, pensar uma outra comunicação se faz necessário para se (re)pensar a identidade nacional e a verdadeira democratização da mídia.
Pensar o racismo na/da mídia e os meios de se enfrentar preconceito racial nos meios de comunicação é o caminho que temos para combater a esquizofrenia social que nos assola e caminhar em direção de uma sociedade efetivamente democrática.
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